I.
Eu escrevi uma dissertação.
Eu entrei na faculdade de Geografia em 2001 querendo escrever um livro pop-up, daqueles que mil coisas acontecem quando aberto, cheio de ilustrações e cores e informações sobre o planeta que vivemos. Saí da faculdade de Geografia em 2014 ainda querendo escrever um livro daqueles que mil coisas acontecem quando aberto.
No meio-tempo, escrevi uma dissertação.
Com exceção da “defesa da dissertação” – que vale uma conversa a parte, pois foi uma experiência surreal – e de uma linda aula que tive a honra de mediar – que vale outra conversa -, a dissertação ficou fechada. Mais um trabalho acadêmico esquecido em uma prateleira, às vezes penso. Mas não é verdade, pelo menos não toda a verdade.
Pesquisar é pesca de ar. Não é para qualquer um, e é para todos. Mas não para qualquer versão de cada um. Como qualquer ofício, pesquisar precisa de dedicação. Precisa precisar, e a pressa, como na pesca, só atrapalha. Na verdade, é a pressa que inventa a precisão. Pesquisa e precisão não são sempre conciliáveis:
PRECISÃO
Do L. PRAECISUS, “encurtado, abreviado, cortado”, particípio passado de PRAECIDERE, “encurtar, cortar fora um pedaço”, formado por PRAE, “antes”, mais CAEDERE, “cortar”.
PESQUISA
compreende a reunião de informações e resultados de exames. Vem do Latim perquirere, “buscar com afinco”, de per-, intensificativo, mais quaerere, “indagar”, de quaestio, “busca, procura, problema”.
Se precisão é corte, pesquisa é reunião.
Cheguei à faculdade, como muitos, recortada enquanto ser humano. Um aglomerado de experiências mais ou menos racionalizadas, longe de compreendidas. Se pesquisar é reunião, eu obviamente estava longe de ser capaz de realmente pesquisar. Quanto mais fragmentado, menor a capacidade de reunir, de conectar.
É por isso que a dissertação diz certa ação. E é este processo que eu gostaria de compartilhar. Aqui, com quem estiver do outro lado da tela e, quem sabe, seus olhos ficarem curiosos. Outro ser humano, também em busca da reconexão.
GEOPOIESIS 